Pesquisando para entender um pouco mais sobre análise iconográfica, pois terei que fazê-la nas imagens para a minha dissertação, achei um texto lindo na Internet e me fiz a mesma pergunta que a autora fez "Por que o amor não faz parte do universo temático da História - pelo menos da História que se escreve no Brasil?". Não sou historiadora, apenas faço pesquisa em história do ESPORTE, no máximo poderia fazer a história do amor pelos esportes, o que me parece meio complicado. Mas com certeza, se eu fosse historiadora, esse seria meu tema. Ao ler o texto: Entre a Pintura e a Poesia: o nascimento do Amor e a elevação da condição feminina na Idade Média, me deparei com a descrição detalhada de pinturas que retratam o amor e senti que valeria a pena trazer alguns fragmentos, bem como poesias - o texto na íntegra está no endereço:
http://www.ricardocosta.com/pub/amor.htm . Inspirador...
Amantes (31 x 18). Detalhe da decoração do teto (em madeira) do claustro da abadia de Sto. Domingo de Silos (século XV - Burgos).
Primavera, desabrochar das flores. Um jovem casal de enamorados se encontra em um ambiente natural - lugar por excelência das aventuras amorosas. Neste pequeno pedaço de terra, nesta “ilha do amor”, eles estão cercados de plantas, imensas, exóticas, que circundam o espaço. O ambiente transpira paixão. O ar está vermelho, quente. Os rostos estão colados, postura típica dos enamorados medievais; os pés unidos do jovem sugerem que ele está sentindo intensamente o contato físico de sua amada; as vestes têm o mesmo bordado e a mesma cor, indicando a harmonia e a perfeição do amor do casal, pois na Idade Média a relação entre os personagens na pintura se baseava na alternância rítmica das cores.
As mãos, elas dão o movimento e explicam os atributos dos personagens ou o motivo pelo qual estão inseridos na cena. Repare na posição das mãos do casal: a dama impede suavemente o avanço do cavaleiro, com sua mão esquerda tocando o peito dele; sua atitude é aparentemente contida, já que sua mão direita o envolve. Ela quer e não quer. Dualidade feminina. Por sua vez, o cavaleiro, apaixonadamente ousado, a abraça com sua mão esquerda, enquanto a direita, insinuante, acaricia carinhosamente um de seus seios.
Na parte superior da imagem, duas linhas negras, vindas da esquerda e da direita, se entrecruzam no meio e evoluem para baixo, formando uma figura triangular que dá a impressão de estar viva, pois no interior de suas linhas se espremem dezenas de “copos-de-leite”, planta aquática branca e em formato de um copo semicônico, considerada erótica por possuir um talo arredondado em torno do qual se desenvolve a flor - símbolo feminino -, um caule amarelo no meio - representando o falo, e do qual exala uma suave fragrância convidativa ao amor.
As linhas negras entrecruzadas ressaltam que o casal está naquela “ilha do amor”. Para destacar isso, o artista recorreu à chamada “arte de reforçar”, isto é, elevar o que se encontra por trás ou ao redor e mostrá-lo por cima. Assim, tudo o que está nele se vê de cima, como as flores. O fato de estarem cercados de água por todos os lados assegura a intimidade do casal: trata-se, portanto, de uma cena íntima. As mãos no peito e as flores eróticas circundando a cena indicam que o momento do amor se aproxima.
Complementando a cena, acima, à esquerda e à direita, um arranjo laranja com as mesmas plantas, como se fosse uma extensão natural dos pensamentos compartilhados do casal. Afinal, na Idade Média, a concepção vigente era de que o corpo humano, formado pelos quatro elementos, se estendia e se comunicava com toda a natureza.
Quando a vejo reconheço-me
Nos olhos, no rosto, na cor,
Pois tremo de medo como a folha ao vento
Uma criança tem mais juízo que eu
De tal modo me sinto possuído pelo amor
E de um homem vencido desta forma
Bem poderia uma dama ter grande piedade
(Bertrand de Ventadorn, c. 1150-1180)
Konrad von Altstetten. Cod. Pal. germ. 848. Große Heidelberger Liederhandschrift (Codex Manesse). Zürich (1305-1340). 249v. Detalhe. A linhagem dos von Altstetten, documentada desde 1166, tinha sua residência em Oberrheintal, no Vale do Alto Reno. Estavam a serviço do abade de Saint Gallen.
(...)O cantor no detalhe dessa primeira miniatura chama-se Conrado de Altstetten. Era um conde. Suas canções pertencem ao período tardio dos Minnesangers (final do século XIII). A iluminura mostra uma dama abraçando seu cavaleiro de uma maneira muito envolvente. O abraço amoroso é um tema comum nas pinturas dos cantores alemães. Sentado a seus pés, reclinado, fascinado por sua beleza e pelo contato físico de seu amor, o cavaleiro se entrega passivamente aos seus carinhos, com seus olhos nos olhos dela.
Para aumentar a sensação de ternura da pintura, o iluminista colocou a dama debruçada suavemente sobre seu amado, com seu rosto tocando o dele. Repare, sua atitude é a de quem está tomando a iniciativa, especialmente pela posição de seu braço esquerdo, envolvendo Conrado.
Por sua vez, o cavaleiro está com seu corpo estendido como se estivesse em um divã. Essa postura é semelhante ao amante romano, embora invertida: em Roma, a atitude emblemática do amante é rolar sobre sua serva “como sobre um divã”; aqui, pelo contrário, o homem está inerte, embevecido, ele é o divã, ela é quem o envolve. Sinal dos novos tempos de elevação da condição feminina. Enquanto recebe as carícias de sua amada, Conrado protege sua mão esquerda com uma luva branca para acolher um falcão, o que confere à cena um equilíbrio harmonioso. Ele a apóia sobre sua perna esquerda para melhor suportar o peso da ave.
Símbolo de sua nobre coragem e de seu prestígio, o falcão parece também estar envolvido pelo ambiente amoroso, pois bica suavemente algo que se assemelha a uma pequena fruta na mão do cavaleiro, que tem dois longos e finos caules também vermelhos - nas imagens medievais, como nos Bestiários, muitas vezes os animais são retratados incorporando os sentimentos de seus donos, como se fossem uma extensão natural deles.
O ambiente que cerca o casal apaixonado está ornamentado com um roseiral - a rosa simboliza o Minne e sua amada (frouwe). Um jardim de rosas: este é o locus típico dos amantes, pois o roseiral também pode simbolizar os pensamentos carinhosos que os dois compartilham no momento - um cenário muito semelhante à iluminura do Conde Rudolf von Neuenburg, embora nesta última o cantor esteja sozinho escrevendo uma canção e pensando em sua amada.
Por fim, esta miniatura pode ser uma ilustração da última canção de Conrado: “Seu beijo seria um penhor que eu aceitaria na hora por mil marcos. Um abraço destes braços brancos é o que deseja este cantor de rimas”
Isso é só uma amostra do artigo, vale a pena ir até lá e lê-lo inteiro, tem muito mais. Para encerrar este
post trago o conceito de amor do texto através dos filósofos: "
O amor é um sentimento sublime, força unificadora e harmonizadora desde a Grécia Antiga. Para Platão, o amor é falta, necessidade, desejo de conquistar e preservar o que se conquistou; o amor dirige-se para a beleza, aparência do bem (O Banquete, 200a, 205e). Aristóteles, por sua vez, considerava o amor sexual, uma afeição que conduzia à amizade, sentimento superior (Ética a Nicômano, VIII, 3, 1156b); ninguém seria atingido pelo amor se não fosse ferido pelo prazer da beleza (IX, 5, 1167).
Porém, acredito que cada um tem seu conceito sobre o que é o amor, os que amam, os que já amaram e os que ainda não amaram, todos tem dentro de si uma ideia do que seja, mas tudo isso são só palavras que nem se aproximam do que é senti-lo.